Oi tudo bem?
Sim, estou um pouco sumida, basicamente por causa do combo patriarcado + capitalismo tardio aplicado à maternidade e precarização do trabalho mas também porque tem algumas coisas bem legais acontecendo, e uma delas vou trazer aqui para vocês.
É o lançamento do curso sobre maternidade que vai rolar dentro do meu clube de conteúdos. Estou bastante empolgada porque foi o tema da maternidade que me trouxe para a rede, que me tornou feminista e sobre o qual eu desenvolvo minhas reflexões e minha militância. É muito tênue esse limite entre ser mãe e sem mulher e ser mãe dentro da estrutura patriarcal é uma condição especialmente vulnerabilizante e fragilizante.
Então fica o convite para conhecer o curso, e para quem é assinante, no final desse texto tem um cupom de descontos todo especial.
Outro dia estava conversando com uma amiga se os tempos atuais eram mais ou menos perigosos para mulheres e principalmente crianças. Elencamos diversos argumentos pró e contra a hipótese de estamos mais vulneráveis sem no entanto, naquele momento, chegar a uma conclusão satisfatória.
Dentre os argumentos contrários estava a ideia de que a sensação de violência hoje é mais onipresente por sermos uma sociedade hiperconectada, com acesso constante a uma mídia que privilegia as notícias que causam mais horror, e que isso não significa que há mais ou menos violência doméstica e sexual do que nos anos 90, por exemplo, apenas que não tínhamos tanta cobertura. Predadores sexuais sempre existiram.
Por outro lado, falamos sobre como antes as infâncias eram mais negligenciadas e boa parte das crianças cresceu sem muita supervisão completamente entregues a uma cultura de massa extremamente sexualizadora, entre as danças da garrafa e banheiras do Gugu. E que hoje há mais instrumentos de vigilância e controle para crianças, mais opções de conteúdo adequado, assim como uma noção melhor estruturada sobre abuso e prevenção.
Sem conseguir chegar a uma conclusão satisfatória que sabíamos também não poderia ser respaldada por dados, já que as pesquisas longitudinais sobre esse tema não cobrem um período tão longo para compararmos a prevalência de violência sexual contra crianças desde a época de 80, por exemplo, decidimos declarar um empate técnico na questão. Até que depois, refletindo sobre a conversa, eu me dei conta de um fator completamente novo, característico da nossa contemporaneidade que coloca mulheres e crianças num nível de risco até então nunca existente, possivelmente.
Esse fator é a tecnologia em rede.
Um mercado global de abuso de mulheres e crianças
Em termos muito rasos, podemos definir pornografia como todo material pictográfico e/ou audiovisual cujo conteúdo é considerado erótico e serve como estímulo sexual. É longa a tradição de produção e consumo de material pornográfico pela humanidade e sua comercialização em larga escala veio acompanhando o crescente da industrialização e da indústria de massa.
No entanto, com o advento da internet o comercio pornográfico foi alçado a outro patamar. Primeiro porque as características de marketplace que a internet possibilita transforma (em níveis estratosféricos e globais) todo mundo em potencial consumidor e também potencial vendedor e produtor de pornografia. Hoje qualquer um que faça um video caseiro filmando seu próprio ato sexual pode tentar ganhar algum dinheiro com isso nas plataformas.
E, seguindo a lógica de qualquer mercado, aqui impera a lógica simples de escassez e demanda: com a produção em massa de material, ocorreu uma saturação do consumidor por determinados tipos de conteúdo mais “comuns” e um aumento da busca por conteúdos cada vez mais diferenciados e especializados, que por serem mais difíceis de serem produzidos tem mais valor. Precisamos considerar aqui também o aporte da própria indústria da cultura pop que importou uma certa estética pornográfica para suas produções de massa, de fácil acesso, e incrementando a busca online por um material cada vez mais “hardcore”.
Dessa forma, temos hoje um mercado pornográfico que movimenta trilhões de dólares, de maneira oficial e clandestina, e que distribui esse dinheiro não só para as grandes indústrias, mas também para o pequeno produtor, que sabe que quanto mais “proibido” o seu conteúdo, maior o seu valor de venda.
E que conteúdo é esse que vale tanto? o abuso sistemático de mulheres e principalmente crianças.
A tecnologia hoje criou um marketplace que transformou a violência sexual contra mulheres e crianças em produto. Se antes, na década de 90, um pedófilo registrasse crianças nuas ou o estupro de um bebê, ele teria que levar a prova do seu crime a uma loja de revelações fotográficas e provavelmente seria preso e correria o risco até de ser linchado. Agora qualquer um pode produzir vídeos de abuso de menores e imediatamente vender para receptadores em operações que são muito mais difíceis de serem rastreadas.
Crianças hoje não estão mais sob o risco de serem atacadas somente pelo pedófilo da família ou pelo estuprador da vizinhança. Elas podem ser aliciadas para serem fotografadas e filmadas por muito homens que não necessariamente tem alguma perversão, mas tem sangue frio suficiente para produzir material pornográfico delas e vender. Uma criança hoje pode estar brincando no parquinho e ter suas fotos onde aparece sua calcinha indo parar num site de pedofilia que cobra uma fortuna só para assinantes, funcionando na dark web.
E a ampla circulação desse material e a possibilidade de conexão entre todos os consumidores vão normalizando essas práticas e criando um sentido de comunidade entre esses homens que inclusive vão se articulando politicamente para descriminalizar suas práticas.
E a circulação cada vez maior desse tipo de material que é acessível em poucos cliques até numa rede como o instagram, vai criando uma nova geração de homens que aprende a fantasiar sobre sexo com crianças. Que vai naturalizando o abuso sob o discurso do “fetiche” em uma sociedade que brada o mantra da naturalização do “fim dos tabus” e tenta a todo custo manipular a ideia de consentimento.
E essa violência, é claro, também espirra nas mulheres. Tornando o sexo muito mais violento (afinal o sexo normal é “baunilha"), normalizando fetiches que são perigosos e glamourizam a dor e a subalternização, compartimentalizando mulheres em categorias a serem experimentadas: a ninfeta, a milf, a enteada.
A pornografia reforça o racismo e a misoginia, torna a vida sexual da mulher hetero muito pior e a deixa exposta a práticas perversas. Além de também fazer crescer os casos de sequestro de mulheres, não só para fins de prostituição mas para produção de material pornográfico gore, onde o estupro e até o seu assassinato vai parar na rede para ser comercializado.
Um homem que fantasiasse estupro talvez guardasse isso para si e nunca realizasse. Hoje, pedófilos, estupradores, assediadores, incels, possuem fóruns específicos online onde se reúnem, compartilham suas fantasias violentas, incentivam-se mutuamente e trocam experiências e técnicas de como realizar seus crimes sem deixar rastros.
Massacres de tiroteios em massa, um fenômeno tão frequente da nossa contemporaneidade, que são cometidos por homens tendo mulheres como alvo nunca poderiam ter se organizado em um clube de troca de cartas. Temos uma tecnologia que é facilitadora da violência masculina, que globalizou e industrializou em níveis nunca imaginados o comércio sexual e que tornou imensamente mais perigoso para mulheres e crianças. Porque hoje você não é somente vítima de predadores sexuais mas também de piratas sexuais, que pilham seu corpo, sua imagem, e vendem no grande oceano de dados que é a internet.
O tema da pornografia, extensamente discutido e criticado por feministas, não é uma questão de moralidade sexual. É uma questão de segurança pública à medida que é um comércio completamente organizado sobre o abuso de vulneráveis. E também já é uma questão de saúde pública uma vez que vicia seus usuários - vicia em imagens de abuso sexual de mulheres e crianças.
Temos hoje em andamento uma epidemia de uso de imagens e vídeos de estupro. Entendam. Homens estão se viciando em nossa degradação, eles querem cada vez mais, a droga do momento é a violência sexual contra mulheres e crianças.
Então sim, definitivamente, o mundo nunca esteve tão perigoso.
É isso! Até a próxima.
Cila ❤️
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Como a pornografia cria o cliente
Está no ar o curso Maternidade: Por Onde Começar!
Este é um curso onde vamos conversar sobre maternidade do ponto de vista da nossa experiência como mulher colocada em posição de exploração e subalternização no patriarcado. Então vamos entender os motivos pelos quais vivemos fenômenos muito específicos e ao mesmo tempo muito semelhantes por toda parte do globo que passam pela solidão, sobrecarga, vulnerabilização e isolamento social, culpabilização, controle social, expulsão do mercado, violência doméstica, empobrecimento sistemático e muito mais. Vamos revisitar os mitos maternos e entender sua função na domesticação da figura da mãe e conversar sobre para onde estamos caminhando com as conversas sobre reprodução e manutenção da vida a partir das tecnologias reprodutivas e onde a “mãe” e a mulher estão sendo colocadas nesse processo.
São 04 aulas, ao vivo, pelo zoom, sábado às 16:00, começando em 08/06. Para quem não puder assistir ao vivo, a aula fica gravada dentro da plataforma, então você não perde nada de conteúdo.
O que vamos estudar no curso?
Você pode acessar assinando o Clube Militância Materna, onde também já estão disponíveis os cursos:
Feminismo: Por Onde Começar,
Sexo x Gênero: Por Onde Começar,
Sequelas da Socialização.
E as aulas extra sobre: pornografia, maternidade compulsória, criação de crianças.
Para assinar basta clicar aqui: Clube Militância Materna
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