Nem de direita, nem de esquerda: feminista
os problemas das mulheres de direita são os mesmos das mulheres de esquerda
A distinção entre direita e esquerda remonta à Revolução Francesa, quando os membros da Assembleia Nacional Francesa de 1789 se posicionaram em diferentes lados do salão de acordo com suas opiniões políticas.
Sentavam-se à direita do presidente da Assembleia os que defendiam a preservação da monarquia, dos privilégios da aristocracia e do clero, e da ordem social tradicional. Eram, em sua maioria, aristocratas e membros do clero. Sentavam-se à esquerda os que defendiam reformas sociais, a igualdade de direitos e a soberania popular. Eram, em sua maioria, burgueses, intelectuais e alguns membros do clero que simpatizavam com as ideias revolucionárias.
Desde então, estão no espectro à direita os grupos conservadores que carregam valores como a preservação de costumes e instituições tradicionais; valorização da família, religião e hierarquia; ênfase na liberdade de expressão, de religião e de propriedade privada; defesa do livre mercado, da mínima intervenção estatal na economia e da livre iniciativa; defesa dos valores religiosos e da moral tradicional; amor à pátria, orgulho da história e das tradições nacionais. Tem uma tradição de associação com a direita correntes de pensamento como o liberalismo clássico, conservadorismo, neoliberalismo, nacionalismo.
Do outro lado, na esquerda, temos valores como igualdade de oportunidades, de direitos e de tratamento para todos, independentemente de raça, sexo, orientação sexual, religião ou classe social; combate à desigualdade social e à pobreza, e promoção da justiça social para todos; liberdade de expressão, de associação e de escolha; defesa dos direitos civis e políticos, como o direito ao voto, à participação política e à liberdade de expressão; solidariedade e responsabilidade social; internacionalismo; laicidade e democracia. Em associação com valores da esquerda, temos correntes de pensamento como o socialismo, marxismo, comunismo, anarquismo, social-democracia, ecologismo.
Mulheres de direita e mulheres de esquerda, portanto, estão em campos ideológicos muito opostos naquilo que defendem. No entanto, estão no mesmo patamar em relação ao seu status diante dos homens onde não superaram sua condição social de serem vistas e tratadas como sujeitas de segunda classe que existem exclusivamente para servir.
Homens de direita e homens de esquerda frequentam o mesmo prostíbulo, bebem do mesmo whisky e estupram a mesma mulher, na mesma noite, e depois saem para disputar suas virtudes ideológicas na tribuna, onde se acham muito diferentes uns dos outros. Ambos chegam em suas respectivas casas e beijam na boca da esposa, que foi deixada sozinha cuidando do lar e dos filhos, enquanto eles pensavam em política.
A mulher conservadora, “de direita", defende família, religião, moralidade, costumes, tradição, hierarquia. Orgulha-se de ser a escolhida de um homem a quem irá demonstrar subserviência por meio da proteção desenfreada desses valores conservadores, sem nunca questionar sua própria condição subalterna, ou mais, orgulhando-se dela, exibindo seu status de esposa protegida dentro da instituição familiar.
A mulher progressista, ou “mulher de esquerda", defende valores como igualdade na relação entre os sexos, liberdade sexual, diferentes composições de relacionamento, independência, autonomia, fim do tradicionalismo, revisão dos costumes. Reivindica estar com homens que a vejam como igual, recusa a proteção paternalista da instituição familiar, e orgulha-se de ser aquela que escolhe o homem a quem irá demonstrar subserviência por meio da proteção desenfreada de valores ditos progressistas, sem nunca questionar sua própria condição subalterna, ou mais, recusando-se a enxergá-la, exibindo um status de mulher livre que é impossível existir dentro da estrutura patriarcal.
O que difere mulheres à direita e a mulheres à esquerda é a defesa ao modelo de vida idealizado pelos homens que elas defendem. Um modelo de vida onde ela continua em papel de subalternidade, seja mais explícita, seja velada.
E a despeito de mulheres militarem politicamente na construção desses modelos de mundo, é preciso reconhecer que em nenhum deles há uma proposta realmente séria de libertação feminina da dominação masculina.
O tema do patriarcado e da exploração e desumanização de mulheres sequer foi arranhado nestes espectros políticos e aqui fica o alerta principalmente para as mulheres de esquerda que tem a ilusão de emancipação dentro de pressupostos masculinos.
Mulheres não são consideradas também para uma participação política séria e decisória no mundo masculino, ocupando postos a fórceps e à custa de cotas e sendo usadas como massa de manobra para batalhar no campo moral quase sempre contra outras mulheres enquanto homens fazem negociatas.
Nem de direita, nem de esquerda: feminista
O feminismo é uma corrente de pensamento criado por mulheres que defendem a libertação das mulheres da opressão e exploração masculina dentro de um sistema chamado patriarcado. Tem por metodologia o materialismo histórico dialético e foi construído por mulheres socialistas, anarquistas, marxistas, entre outras, prioritariamente do campo ideológico da esquerda, mas que não atende somente as mulheres de esquerda. Ele pretende libertar todas as mulheres. Inclusive as mulheres da direita.
Estamos no meio de um tremendo entrave nas possibilidade de diálogo dentro da construção do movimento, paralisadas justamente por conta das armadilhas masculinas que fomentam a rivalidade e instrumentalizam mulheres para que nunca estejam unidas naquilo que tem em comum: a opressão que sofrem dos homens.
O campo político da esquerda está sendo implodido por pautas neoliberais que são uma série ameaça aos direitos das mulheres. E aquelas que se opõe estão sendo coagidas, silenciadas e perseguidas. Não há mais possibilidade de proposição diante de uma onda de autoritarismo orquestrada justamente para impedir avanços do movimento das mulheres pela esquerda. Aqui, fomos abandonadas.
Do outro lado, o conservadorismo está se aproveitando para reforçar o backlash aos parcos direitos conquistados nas últimas décadas promovendo uma onda de anti-feminismo e difamação atiçando mulheres de direita contra feministas e mulheres de esquerda em geral. Mulheres de direita continuam ocupando o lugar a que vieram, e o fazem com prestígio: protetoras dos direitos masculinos.
Homens não se comprometem em nada e apenas assistem e abocanham parcelas maiores de privilegio.
E é por isso que precisamos retirar a discussão do espectro direita-esquerda e trazê-lo para termos feministas. E falar com todas as mulheres. Essa é a melhor chance que temos de defender a nós e as crianças dessa volumosa onda de retrocessos que está se formando.
Se considerássemos um projeto de mundo feminista, um que não se pautasse por direita ou esquerda, conservadorismo ou progressismo, mas dominação ou libertação. Neste cenário, onde estariam todas as mulheres? Se todas as mulheres, à direita e à esquerda, sofrem com violência masculina, sofrem assédio, abuso, estupro, exploração doméstica, objetificação, discriminação sexual, exclusão dos espaços, terrorismo sexual?
Se todas as mulheres, à direita e à esquerda finalmente percebessem que seus problemas são os mesmos? Que não existe liberdade debaixo do abraço do patriarca, mesmo que ele use flores na barba?
Os problemas das mulheres da direita são os mesmos das mulheres da esquerda: os homens. Para perceber isso precisamos abandonar a lente que homens nos oferecem para enxergar o mundo, rejeitar as palavras que homens nos ensinam para ler o mundo, e criar uma nova perspectiva, uma nova gramática, que seja capaz de dar conta desse mundo que todas as mulheres vivem juntas, a despeito do seu espectro politico.
É por isso que, entre a direita e a esquerda, toda mulher deveria ser feminista: por um projeto político que centralize mulheres e crianças e nos liberte da opressão masculina.
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Cila ❤️
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