Como lidar com crianças com “inconformidade de gênero”?
ou será que seu filho é "trans"? resposta: não.
Oi, tudo bem?
Existe um protocolo de comportamento esperado para homens e mulheres que obedece a lógica de manutenção de uma estrutura social que privilegia homens e subalterniza mulheres.
Este protocolo é baseado no nosso sexo de nascimento, ensinado num intenso processo de domesticação e conformação, e o chamamos de “gênero”. É, resumidamente, o conjunto de regras que determina como meninos e meninas devem se comportar para serem aceitos socialmente como sendo meninos ou meninas.
Crianças que demonstram resistência, interesse, curiosidade ou propensão em questionar estas regras estão em sérias dificuldades. É cada vez mais comum ver pais desesperados porque seus filhos se comportam de maneira diferente do que é esperado para o seu sexo: “meu filho gosta de brincar de bonecas", “minha filha não gosta de usar vestidos”, “meu filho não gosta de brincar com os outros meninos".
Dessa forma, crianças "dissidentes" estão sendo punidas e levadas de todo jeito a se “encaixar”, seja pelo discurso conservador do “nascemos assim", seja pelo discurso progressista do “nascemos no corpo errado”. Comportamentos que antes eram entendidos apenas como sendo a personalidade se manifestando hoje viraram motivo de preocupação e tomaram um caminho de patologização sob a desculpa de "evitar o sofrimento" (que na verdade é a vergonha dos adultos pela inadequação do comportamento da criança).
Este texto é, portanto, não só para pais, professores e cuidadores, mas para todos os adultos que sentem-se confusos e tentados a classificar comportamentos infantis a partir de uma ótica de “identidade de gênero”, incorrendo no grave risco de patologizar infâncias, classificar crianças segundo sua própria interpretação do mundo e no anseio de corrigi-las, levar grande sofrimento psíquico.
Começando do começo - o gênero
Gênero, falando a grossíssimo modo, é um conjunto de ‘regras’ que existem para definir e demarcar qual é a expectativa sobre o comportamento de um grupo que nasce com um determinado sexo.
Ou seja, crianças nascem, tem seu sexo identificado e imediatamente começam a ser socializadas para pensar, sentir-se e comportar-se de acordo com as prerrogativas do seu gênero. Ou seja, se nasce do sexo masculino é empurrado para o “clube de formação de homens”, onde aprenderá a ser forte, viril, dominador, agressivo, usar azul, gostar de esportes, carros, etc. Se nasce do sexo feminino, vai para o “clube de formação de mulheres” onde aprenderá a gostar de rosa, ser cuidadora, mãe, esposa, delicada, bela, maternal, brincar de bonecas, etc.
E isso é muito importante de pontuar: crianças são ensinadas. Não existe um comportamento que seja natural e inerente ao fato de se nascer menino ou menina. Tudo o que manifestamos em sociedade são comportamentos aprendidos.
As regras do gênero são formadas puramente por estereótipos.
Estereótipos são “pré-conceitos”, conceitos que antecedem um fato. Por exemplo, quando dizemos que meninas gostam de rosa, ou que meninas são mais delicadas, estamos usando um estereótipo de gênero. Uma expectativa pré-concebida de que o fato de alguém ter nascido menina significa que é delicada, frágil e gosta de rosa.
Os estereótipos de gênero são a base de formação do machismo. Todos os estereótipos que são atribuídos a meninos tem um campo semântico mais valorizado, são mais ligados a ideia de força, virilidade, controle, potência, liberdade, atributos muito importantes na nossa sociedade. Enquanto que os estereótipos de gênero atribuído às meninas falam de fragilidade, delicadeza, vaidade, cuidado, gentileza, obediência… atributos que não só não são valorizados como colocam o grupo em posição de subalternidade e submissão em relação aos homens.
Dessa forma, o "gênero” tem uma função estratégica. Ele ensina como o grupo de pessoas do sexo masculino e do sexo feminino devem se comportar. E como resultado temos um grupo que tem comportamento dominador (homens), que conquistam e detém privilégios em função da dominação do grupo com comportamento subalterno (mulheres). É a fórmula mágica da manutenção do patriarcado.
De uns anos para cá o processo de generificação das crianças foi se tornando cada vez mais intenso. Compare as prateleiras coloridas de uma loja de brinquedos dos anos 90 com uma hoje, 30 anos depois dividida nas cores azul e rosa ou as lojas de roupa infantil. Os comportamentos esperados estão cada vez mais marcados e cada vez mais precoces. O advento do "chá de revelação” fez com que o processo de socialização de gênero comece antes mesmo que o bebê tenha nascido.
E como crianças são pessoas, únicas, com personalidade, podem ser sempre mais ou menos resistentes a essa socialização, que é um aprendizado duríssimo e cruel. Se você nasce uma menina naturalmente mais assertiva, ativa, combativa, vai ser podada. Se você nasce um menino naturalmente sensível, delicado, tímido, vai ser podado. A conformação dentro dos estereótipos de gênero implica em reduzir pelo menos pela metade todo o seu potencial de experimentação do mundo.
Então se uma criança, por sua personalidade, apresenta “sinais trocados”, se uma menina aparenta ser “masculina” (ou seja, tem mais aderência aos estereótipos que são eleitos para os homens), ou se um menino é “feminino” (ou seja, tem mais aderência aos estereótipos que são eleitos para as mulheres), há um curto-circuito no sistema que rapidamente se encarrega de tolir esse comportamento através da censura, do constrangimento, do banimento social e da violência.
Essa intensificação nos padrões de gênero fez com que crianças cujo comportamento não se encaixam, que apresentem “inconformidade de gênero” passassem a ser vistas como tendo uma questão que precisa ser tratada. Um menino que brinca com bonecas ou uma menina que não gosta de vestidos, hoje corre o sério risco de ser "diagnosticado” como sendo uma “criança trans” e entrar numa rota de tratamentos que na via final incluem cirurgias esterilizantes e medicação para uma vida inteira.
E isso vem acontecendo com o endosso e o incentivo da indústria médica e farmacêutica, por motivos de criação de um mercado que já movimenta milhões de dólares.
Os absurdos critérios médicos para identificar “disforia de gênero”
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou um documento sobre como lidar com crianças e adolescentes com "inconformidade de gênero" em 2019. O material, intitulado "Recomendações sobre Crianças e Adolescentes com Inconformidade de Gênero", visa orientar profissionais de saúde e educadores sobre o tema, oferecendo diretrizes para o acompanhamento dessas crianças e adolescentes.
Este documento é um exemplo perfeito de como os estereótipos e a necessidade social de conformação de crianças dominaram o panorama, incluindo o discurso médico. As indicações são uma coleção de orientações equivocadas porque são baseadas em identificar “desvios” a partir do enquadramento da criança em comportamentos esperados de gênero, no melhor estilo se gosta de azul de carrinho é menino, se gosta de boneca é menina. Vamos analisar detalhadamente o que o documento diz.
Disforia de gênero em crianças: critérios diagnósticos segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria
O primeiro critério elencado pela SPB para diagnosticar “disforia de gênero em crianças é:
“incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos 6 meses."
O que se quer dizer com isso: que o primeiro “sintoma” de "disforia de gênero” em uma criança é que por pelo menos 6 meses o seu comportamento geral (gênero experimentado/expresso) seja incongruente (diferente/incompatível) do comportamento socialmente esperado de acordo com seu sexo (gênero designado). Traduzindo em um exemplo: se a criança nasceu com o sexo masculino, espera-se e ela será ensinada a se comportar dentro dos estereótipos para meninos (gênero designado). MAS, se por um acaso, esse menino, por 6 meses, apresentar no seu comportamento coisas que são entendidas socialmente como sendo típicas de meninas (gênero experimentado/expresso), então esse menino tem um SINTOMA de disforia de gênero. Parece absurdo e é, principalmente quando nós vamos ver qual é a lista desses comportamentos “incongruentes, dos quais ele deve apresentar 6 de 8 para ser considerado “disfórico”:
forte desejo de pertencer a outro gênero, ou dizer que seu gênero é outro
Quando seu menino diz que é menina, ou sua menina diz que é menino. Esse é um comportamento absolutamente comum em crianças, principalmente as menores, elas fantasiam e experimentam o mundo e podem dizer desde que são de outro sexo, até de que são de outra espécie (meu filho costumava dizer que era um gato). Há também aqui um outro fenômeno que faz com que crianças afirmem ser de outro sexo que é uma confusão sobre si causada pelos adultos que a cercam. Imagine um menino que gosta muito de brincar de bonecas. Ele pega uma boneca e fica ouvindo que isso é coisa de menina. Ele é sensível e chora muito e fica ouvindo que parece uma menininha. E os adultos em pânico com esses comportamentos desviantes reforçam ainda mais a cobrança por “comportamentos de menino” a ponto dessa criança concluir que ele não tem nada a ver com um menino, talvez ele seja mesmo uma menina. Quase sempre essas declarações vinda de crianças tem a ver com um momento de fantasia ou por alguma confusão causada por adultos na percepção da criança sobre si.
Em meninos uma forte atração por vestir roupas femininas. Em meninas uma forte atração por vestir roupas masculinas.
Aqui a SBP apresenta como sintoma o fato de meninos interessarem-se por roupas de menina e vice-versa. Esse aspecto é especialmente perverso porque para crianças pequenas roupas não tem significado simbólico e sim lúdico. Então, por exemplo, roupas para meninas são muito mais coloridas, divertidas, engraçadas e atraem muito mais atenção e elogios. É natural despertar o desejo por usá-las, nos meninos. Roupas para meninos são muito mais práticas, confortáveis e protetoras. É natural despertar o desejo por usá-las, nas meninas. Fora que crianças tem interesse natural em experimentar as roupas dos pais, independente do seu sexo. E à medida que crescem crianças vão tendo personalidade, é muito preconceituoso e cruel dizer, por exemplo, que uma menina que gosta de roupas masculinas típicas (leia-se, bermuda, camiseta, calça, tons frios, motivos esportivos) tem um sintoma.
Forte preferência por papéis transgêneros em brincadeira de faz-de contas
Aqui a SBP está regulando como uma criança deve fantasiar nas suas brincadeiras. Ou seja, se o seu filho brinca que é uma menina, ou uma princesa, ou a rainha, ou a “mãe”, ou a mulher-maravilha, ou a Elza do Frozen. Ou se sua filha brinca que é um menino, ou um príncipe, um guerreiro, o “pai”, o Super-Man, o Batman, o Ben 10. Não sei o que fazer caso eles brinquem que são um elefante, talvez procurar um veterinário.
Forte preferência por brincadeiras, jogos ou atividades tipicamente usados ou preferidos por outro gênero.
Neste item a SBP joga fora o axioma "não existe brincadeira de menino ou de menina” e considera que se um menino brinca de boneca ou se uma menina brinca de carrinhos ela tem um problema.
Forte preferência em brincar com pares de outro gênero.
Neste item se torna um problema se a criança prefere brincar com outras do sexo diferente do seu. Ou seja, se seu filho gosta mais de brincar com meninas do que com meninos, aparentemente é um “sintoma”. A mesma coisa se sua filha preferir brincar mais com meninos do que com meninas. Afinidade, personalidade, nada disso importa mais, pelo visto.
Em meninos, forte rejeição de brinquedos, jogos ou atividades tipicamente masculinas e forte evitação de brincadeiras agressivas e competitivas; em meninas, forte rejeição de brinquedos, jogos e atividade tipicamente femininas
Isso é tão errado e ao mesmo tempo tão elucidativo. Este item está claramente dizendo que se um menino não é agressivo e competitivo ele pode ter um sintoma e ser uma menina. E que se sua filha, por outro lado, não gosta de brincadeiras delicadas e “tipicamente femininas” (leia-se casinha, boneca, maquiagem) ela pode ser, na verdade, um menino. Depois a gente vê as estatísticas de violência, vê como homens são empurrados para serem essas máquinas de matar e como mulheres fiam impassíveis nessa relação, e não entende como isso acontece.
Desejo intenso de por características sexuais primárias e/ou secundárias, compatíveis com o gênero experimentado.
Esse item fala sobre a criança expressar ter uma genitália diferente da que possui (característica sexual primária). Para características sexuais secundárias (seios, pêlos), já estamos falando de púberes. Este aqui é o único item digno de maior observação que é entender: o que está acontecendo com essa criança a ponto dela desenvolver ódio ou aversão específico pela própria genitália? Em tese, para uma criança, sua genitália deveria ser um item com a mesma importância do nariz ou da orelha. Então se uma criança manifesta tanta consciência e desconforto com a própria genitália vale ficar alerta se já que talvez isso seja evidência não de disforia de gênero mas de abuso sexual.
E seguida, temos o item B, que é o segundo pré-requisito para indicar que uma criança tem "disforia de gênero", segundo a SPB:
“A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico o em outras áreas importantes da vida do indivíduo.”
Sobre esse item é importante contextualizar que ele é uma consequência de um estado de coisas muito bem evidenciado pelo item A. Acompanhe comigo.
Imagine os valores e preocupações de adultos que observam um problema no fato da sua criança (e aqui estou listando somente os critérios da SBP): 1. fabular que é de outro sexo, 2. querer vestir roupas diferentes associadas a outro sexo, 3. brincar que é um personagem de outro sexo, 4. gostar de brincar livremente, inclusive de brincadeiras associadas ao outro sexo, 5. gostar de brincar com amigos do sexo diferente do seu, 6. é um menino que não gosta de ser agressivo ou é uma menina ativa.
Imagine essa criança. Cujo comportamento, absolutamente normal e que expressa a sua personalidade, é visto (pelos adultos) como um sintoma, como um problema, como a manifestação de que algo está errado com ela? É óbvio que ela vai estar em sofrimento psíquico.
Porque a criança sente, e muito precocemente, a rejeição, a preocupação dos adultos, a apreensão. Ela sente como o comportamento dos pais muda quando ela tenta corrigir o comportamento. Ela sofre quando ela não consegue manter-se dentro daquilo que os pais esperam. Ela percebe o que é premiado e o que será punido.
Existe sim “sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social” em crianças que apresentam “inconformidade de gênero”, mas não porque há algo errado com elas, e sim com os adultos que estão infernizando sua vida.
Se você entender que “conformidade de gênero” é “conformidade de comportamento esperado socialmente” e “inconformidade de gênero”, é “inconformidade de comportamento esperado socialmente” vai compreender também o tamanho da violência que adultos estão cometendo contra crianças e adolescentes neste momento.
Mas existe “disforia de gênero"?
A disforia corporal é um sentimento de mal estar persistente sobre alguma característica do próprio corpo. É uma condição clínica que pode afetar a qualquer um e que tem diferentes tipos e graus de manifestação. Muitas pessoas que tem anorexia por exemplo sofrem de disforia corporal ou seja, enxergam seus corpos gordos, mesmo estando num estado de extrema magreza.
Hoje a “disforia de gênero” é definida como um sentimento de angústia e inadequação em relação ao próprio corpo sexuado. Chamamos “disforia de gênero” mas é uma disforia corporal.
Crianças que são persistentemente confrontadas em relação aos seus gostos pessoais podem sim desenvolver algum tipo de confusão ou disforia em relação ao seu corpo. Basta pensar como fica a cabeça de uma criança que escuta o tempo inteiro que tudo aquilo que ela gosta não foi feito para ela e sim para quem é do outro sexo, e que o jeito que ela é está errado. Pense por exemplo em um menino que escuta o tempo inteiro: “isso é coisa de menina”, “parece uma menina”, “não pode, é para as meninas”? Não é difícil ele concluir: “se tudo que eu gosto é para meninas e se o meu jeito parece de uma menina então eu sou uma menina”. E dessa conclusão para o desconforto psíquico com o corpo é um passo.
O tratamento para a disforia corporal é terapia, acolhimento, conforto, aceitação do próprio corpo, elevação da estima, autocuidado. No caso da disforia de gênero, principalmente em crianças, o adequado seria terapia familiar, porque em 99,9% das vezes a origem do desconforto da criança está na dificuldade de ser aceita com sua personalidade (que não se encaixa nas expectativas de gênero) pelos seus entes mais próximos.
E aqui uma nota importante: terapia e acolhimento é a indicação para qualquer tipo de disforia corporal. Da mesma forma que não receitamos dietas ou cirurgias plásticas para pessoas disfóricas por causa do seu peso corporal, não se deve fazer afirmação de gênero, tampouco intervenções medicamentosas ou cirúrgicas em que apresenta disforia por causa do seu corpo sexuado.
Ademais, pesquisas indicam que cerca de 90% dos casos de disforia de gênero se resolvem espontaneamente no final da adolescência e todos os protocolos médicos que tratam do tema do gênero em crianças estão sendo revisados apontando para a terapia como tratamento.
Como lidar com crianças com “inconformidade de gênero”?
É impossível para uma criança ser livre e feliz se tiver que cumprir todos os ditames dos estereótipos de gênero. Um menino, por exemplo, que é mais sensível, delicado, avesso a combates, e/ou interessado por “coisas de meninas” vai ser visto como “mulherzinha”, “criança viada”, “gay”, “afeminado”, e será profundamente rechaçado e rejeitado socialmente. Uma menina que é mais ativa, mais agressiva, agitada, assertiva, que goste de esportes, vai ser marginalizada, chamada de “moleca”, vai ser terrivelmente cobrada para que seja uma “mocinha”.
Só que crianças são pessoas e tem personalidade própria. E também são uma esponja e rapidamente percebem que tipo de comportamentos e posturas são desejados para que eles sejam aprovados. Para essas crianças perceber que aquilo que elas são é muito diferente daquilo que esperam que ela seja é muito dolorido. Principalmente se a criança for o tempo todo coberta de críticas, censuras, e declaração de “preocupação”.
Então o que eu queria dizer aqui é: seu filho não é uma menina porque gosta de bonecas, e cor de rosa, e não gosta de socar os amigos, nem sua filha é um menino porque ela não quer se maquiar, ou usar vestidos, ou brincar de casinha. E tampouco tem alguma coisa de errado com eles.
Eu tenho certeza que você consegue entender que brincadeiras, roupas, fantasias, comportamento, não definem se alguém é menino ou menina.
Então, quando uma criança tem uma personalidade que acaba destoando muito da expectativa social sobre ela e começa a receber muitas cobranças para ser de outro jeito, a família deve:
ser a primeira a reconhecer que não há nenhum problema com a criança e que é apenas a personalidade dela se manifestando;
acolher a dor e confusão dessa criança com eventuais rejeições sociais ao seu jeito de ser;
promover um ambiente familiar seguro, de experimentação, liberdade e conforto;
explicar o motivo pelo qual ela está sendo rechaçada socialmente (que não é culpa dela mas de um terrível sistema que quer obrigar pessoas a determinados comportamentos e visa crianças);
e pensar junto com ela mecanismos para que ela possa estar segura e protegida também nos espaços fora de casa respeitando seu jeito.
A outra opção, a pior delas, é acreditar que o problema está com a cria e não com essa sociedade horrorosa e castradora, que ela nasceu “no corpo errado”, e que você vai “ajudá-la” a se “encaixar”.
Aliás, “encaixar” é uma palavra mágica um tanto irresistível que faz muito pais desesperados tomarem decisões bastante questionáveis sobre suas crianças. Eles não querem que os filhos sofram, sabemos como a sociedade é cruel com quem não se encaixa. É compreensível.
Mas aí cabe pensar o preço que estas crianças estão pagando para se “encaixar” nessa sociedade que está aí, ao invés de confrontarmos e lutarmos e colocarmos abaixo essas regras. Pensar se é nessa sociedade terrível, sexista, racista, elitista, cruel, que queremos que nossos filhos se encaixem. Pensar se não é mais fácil até, simplesmente deixarem nossas crianças se desenvolverem livremente experimentando tudo aquilo que a personalidade deles vai demandando.
E buscando referências, novas maneiras de estar no mundo, que ainda são poucas mas que estão surgindo sim, impulsionando essa possibilidade (veja aqui 5 filmes infantis que nos ajudam a pensar um pouco sobre isso)
Hoje, cada família precisa escolher qual vai ser a filosofia que vai adotar na criação dos seus filhos. Porque claramente vemos discursos que parecem o mesmo mas são claramente contraditórios. Ou acreditamos que estereótipos de gênero são um problema e deixamos as crianças livres para experimentar ser do jeito que quiser, acreditamos que não existe brinquedo de menino e menina, que não existe cor de menino e de menina, e damos a possibilidade de uma infância mais rica e menos reprimida, ou acreditamos definitivamente que nascer de um determinado sexo define seu comportamento o mundo e adotamos esse manual de comportamento de gênero para ser seguido desde o nascimento.
Rejeitar o gênero, transgredir essas regras, definir-se como PESSOA, e não como “homem” ou “mulher”, segundo os parâmetros do patriarcado, é a verdadeira revolução. Todos nós somos, ou deveríamos ser inconformes com o gênero. Porque ele é uma armadilha, uma prisão. Crianças são seres visionários e tem muito a nos ensinar. Deveríamos aprender com elas ao invés de tentar “encaixá-las”.
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