As fases do luto feminista
Ou para que serve a teoria feminista, além de te deixar em posição fetal?
Olá, como você está?
Este texto foi escrito com base na observação sobre o comportamento de mulheres quando finalmente tomam contato com teoria feminista e entendem sua condição de subordinação. É um momento muito delicado em que mulheres se sentem perdidas, traídas, se perguntam “e agora?", e depois mergulham num longo processo que pode tranquilamente ser interpretado a partir das fases do luto. Espero então que este texto te ajude a se encontrar um pouco no meio disso e também a entender mais do processo de outras mulheres. Vamos lá?
Pode não parecer, mas é particularmente difícil falar com mulheres sobre teoria feminista. É um processo bastante sensível explicar sobre como fomos, em algum momento da história, objetificadas, transformadas em mercadoria e podadas nas nossas possibilidades e potencialidade como um ser humano completo. A maior parte de nós não aprendemos a interpretar os fenômenos que vive durante uma vida inteira sob esse ponto de vista. Recebemos explicações simples e mentirosas sobre os motivos pelos quais somos tratadas da maneira que somos e, portanto, falar sobre determinados aspectos da história das mulheres é como oferecer as peças que estão faltando a um quebra-cabeça cuja imagem incompleta é impossível de decifrar, mas que se mostra óbvia, uma vez completa.
É inevitável um sentimento de choque, de dor. O mundo como conhecíamos perde o sentido. Ele simplesmente não existe mais. A perda é real e precisamos nesse momento ser generosas e vivenciar o que tudo isso significa. Existe um luto que nos atravessa, e enfrentá-lo e vivenciá-lo é a melhor maneira de lidar com a enxurrada de emoções e sentimentos que inevitavelmente nos atravessam neste momento.
E o que acontece então?
A primeira fase é a negação e você conhece várias mulheres nesse estágio. Elas tomaram contato com ideias que confrontam a maneira como enxergam o mundo e reagiram com veemência. “É exagero”, dizem. “Comigo não aconteceu nada disso", “Não é assim que vejo por aí”. Eu diria, inclusive, que boa parte estaciona nesta fase. Se agarra com desespero ao amor e lealdade que sentem pelos homens e defendem o modo como aprenderam a ver as coisas até o limite, inclusive atacando outras mulheres, se for preciso.
Então, para algumas, em algum momento, o entendimento vem. Paramos de negar e entramos na fase da raiva. E sentimos raiva de tudo, do mundo que morreu, de quem costumávamos ser, de quem nos feriu, das mulheres que ainda estão alheias. É uma avalanche avassaladora de sentimentos que se tornam ainda mais potentes porque, para nós, a raiva é uma emoção negada, reprimida em uma vida de socialização para ser subalterna. Então, quando finalmente acessamos nossa indignação, nossa revolta, abraçamos como a um bote salva-vidas e remamos.